SENTAR EM W: pode ou não pode?
- Valéria Rodrigues
- 27 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de ago. de 2020
Quem nunca viu uma criança brincando no chão com as pernas posicionadas para trás no formato de um "W"?
De acordo com a fisioterapeuta Samara Quintanilha, o desenvolvimento motor segue uma ordem cronológica evolutiva com etapas distintas e previsíveis, caracterizadas por mudanças nas habilidades e nos padrões de movimento. As mudanças posturais durante as brincadeiras fazem parte dessa evolução sendo extremamente benéficas para a criança, pois ajudam a desenvolver os músculos do tronco favorecendo o desenvolvimento do equilíbrio e consciência corporal. No entanto, se a criança assume com frequência a postura em “W”, este hábito pode gerar problemas não só ortopédicos, mas também em relação ao desenvolvimento motor.

Consideramos que sentar em W é mais confortável para as crianças, pois oferece maior estabilidade, não necessitando que a criança se concentre em se equilibrar, e é exatamente por isso, que essa posição é criticada por alguns especialistas, pois além de desenvolver equilíbrio, sentar na posição correta trabalha alguns músculos. Se a criança senta na posição de W poucas vezes, pode não ser algo preocupante, porém se o fizer com certa frequência, a longo prazo, pode causar os seguintes danos:
Diminuir a coordenação e o equilíbrio;
Interferir no desenvolvimento de ossos e articulações do quadril e também dos joelhos;
Prejudicar o alongamento dos músculos;
Gerar problemas na colunas;
Prejudicar na estabilidade do tronco, podendo trazer problemas de postura e atraso motor, influenciando até mesmo no andar;
Interferir na escolha do lado dominante, pois a criança acaba usando a mão direita para pegar objetos que estejam no lado direito e consequentemente usar a mão esquerda para pegar os objetos que estejam deste lado.
E qual relação Sentar em W tem com o Autismo? É muito comum algumas mães observarem a sua criança sentar nesta posição e automaticamente associar ao autismo, assim como muitas mães de crianças autistas relatam está caraterística nos seus filhos(as). E ai vem a dúvida, sentar nesta posição tem ou não alguma relação com autismo?
De acordo com DSM-5, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, tendo os seus critérios utilizados para diagnosticar os transtornos mentais e comportamentais, para se enquadrar no diagnóstico de autismo, é necessário que o paciente apresente:
> Critério A. Deficiências persistentes na comunicação e interação social:
1. Limitação na reciprocidade social e emocional;
2. Limitação nos comportamentos de comunicação não verbal utilizados para interação social;
3. Limitação em iniciar, manter e entender relacionamentos, variando de dificuldades com adaptação de comportamentos para se ajustar as diversas situações sociais.
> Critério B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestadas pelo menos dois dos seguintes aspectos observados ou pela história clínica:
1. Movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos ou fala;
2. Insistência nas mesmas coisas, aderência inflexível às rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal e não verbal;
3. Interesses restritos que são anormais em intensidade ou foco;
4. Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente.
> Critério C. Os sintomas devem estar presentes nas primeiras etapas do desenvolvimento. Eles podem não estar totalmente manifestos até que a demanda social exceder suas capacidades ou podem ficar mascarados por algumas estratégias de aprendizado ao longo da vida.
> Critério D. Os sintomas causam prejuízos clinicamente significativos nas áreas sociais, ocupacionais ou outras áreas importantes do funcionamento atual do paciente.
> Critério E. Esses distúrbios não são melhores explicados por deficiência cognitiva ou atraso global no desenvolvimento.
Desta forma com base nos critérios relacionados acima, Sentar em "W" não tem relação com o diagnóstico do autismo.
Como o autismo apresenta uma série de atrasos no desenvolvimento da criança, podendo impactar inclusive no desenvolvimento motor, acaba sendo mais comum vermos crianças com o diagnóstico de autismo sentadas nesta posição. Como sentar nessa posição auxilia diretamente em manter o equilíbrio no sentar, as crianças autistas acabam sentando com maior frequência nessa posição exatamente pelas limitações que elas possuem vinculadas ao autismo, e não o contrário (sentar em w ser um "sinal" de autismo), como popularmente é cogitado ou relacionado.
É importante ressaltar que o diagnóstico de autismo é clínico, feito através de observação direta dos comportamentos e marcos do desenvolvimento da criança e de uma entrevista com os pais ou responsáveis, e deve ser efetuada por um profissional devidamente capacitado.
Referências:
DSM-V. Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mentais. American Psychiatric Association. 5 ed. 2013.
Quintanilha, Samara. Afinal, sentar em "W" pode ou não? Criança e Saúde. São Paulo. Disponível em: http://www.criancaesaude.com.br/sindrome-de-down/samara/sentar-em-w/